07/02/2010

Sou Insaciável

Eu sou insaciável;
mal um desejo surge, outro desponta,
e em mim há sempre latente a febre do sonho e do desejo,
e quando possuo alguma coisa de infinitamente consolador,
como é a sua amizade, desejo mais, mais ainda, mais sempre!
Conhece-se em mim o afeto, o amor, a ternura por um egoísmo implacável
que quer tornar muito meus, e só meus, os corações que se me dedicam um pouco.
Dá isto muitas vezes o resultado de me suceder o mesmo que sucedeu ao cão que largou a presa pela sombra, pois querendo muito, muito perdeu.
Pareço-me um pouco com esse cão pateta, não acha?


Florbela Espanca, in "Correspondência (1916)"

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