17/06/2010

A Asfixia do Artista pela Sociedade

[...]
Eu tenho medo das «teses» quando se apoderam de um artista jovem,
sobretudo nos começos da sua carreira.
Porventura as nossas pessoas cultas ainda não se deram conta do que pode passar-se no coração e na inteligência dos nossos escritores e artistas jovens? Que confusão de ideias e de sentimentos preconcebidos!

Sob a pressão da sociedade, o jovem poeta sufoca na alma o seu natural anelo de espraiar-se em formas singulares; receia que condenem a sua «ociosa curiosidade»; reprime essas formas que lhe brotam do fundo da alma; nega-lhes vida e atenção e arranca de dentro, entre espasmos, o tema que à sociedade agrada, que é grato à opinião liberal e social.

Mas que erro tão horrivelmente cândido e ingênuo, que erro tão crasso!
 Um dos mais grosseiros erros consiste em que a denúncia do vício (ou do que ao liberalismo se antolha como tal) e a incitação ao ódio e à vingança se consideram o único caminho possível para a consecução do fim. Contudo, até mesmo nesse exíguo caminho um grande talento poderia desenvolver-se e não se afundar nos princípios da sua carreira; bastaria recordar-se mais amíude da regra áurea, de que as palavras que se dizem são de prata e as que se calam... são de ouro.
Há talentos notáveis que prometiam muito,
mas a quem a tendência corroeu de tal modo que lhes encaixou um uniforme.

Fiodor Dostoievski, in 'Diário de um Escritor'

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